Por Giselle Stefanelli de Lima
Ao ler o livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, educador brasileiro que influenciou sem fronteiras; problematizar a dialética de pedagogia para com o outro, do direcionar-se mais para outro do que para mim, o doar-se, confrontar-se pelas inconveniências da prática docente, atrever-se, aliar-se aos estudantes, lutar, sonhar, respirar um ar de esperança, seguir em frente com ousadia; representam algumas formas de encarar a corruptível visão de educação que paira em nosso contexto atual, vítima de um sistema excludente capitalista sujeita a todo estrago neoliberal que elimina ao invés de acolher, que fragmenta ao invés de unir, que mata ao invés de salvar e que festeja o afogamento da educação em um mundo que suga ao invés de encher de dignidade.
Não há como investir no desenvolvimento sem investir na educação e na pesquisa, os dois formam um binômio que pelo rompimento da tensão superficial se unem inseparavelmente, quebram-se as ligações que os separam. Acontece que hoje no Brasil e no mundo a educação formal, não só ela, está sendo indevidamente utilizada para formar “robôs” mecanizados, altamente eficazes, qualificados para produzir sem erros, sem brechas, sem riscos de perda, acontece que o ser humano é de carne, sangra sabia? Tem mau cheiro também, tem cheiro bom, cheiro que nos traz prazer; já os robôs não são humanos, os humanos não devem ser robôs, muitos pensam: “- Isto eu já sabia!”. Sabia mesmo? Bem, não é o que parece. Quem é humano deve ir contra o limitante.
As instituições que realmente “investem” na educação, porém como forma de ascensão social à reitoria, à gestão em geral e status aos docentes ao invés de investir na essência educativa, sem dar voz efetiva aos discentes, é como uma máfia e o pior sem educação, pois não tem sentido um espaço educativo sem serem valorizados em sentido primordial, com voz e ação, sem sombra de dúvidas, os discentes. Sem desenvolver simplesmente o espaço do respeito como prática para início da educação o que acontece? Sem o respeito, sem a voz eminente, as tragédias tristemente assolam o território educativo, sendo que o sangue que deveria pulsar no coração e lançado sem voz ao chão.
A educação doente está formando doentes, formando robôs, secando o sangue que deveria aquecer, transportar e nutrir. É necessário resguardar na educação o viver amando, simplesmente amando, pois quem ama cuida e luta para evitar o adoecimento. A sociedade deve parar de ser cega e de acostumar-se com as tragédias, não as oriundas simplesmente da natureza que nos cinge, estas que são as respostas da natureza contra a natureza humana corruptível, esmagadora e destruidora. A tragédia que me refiro é ação antrópica deseducada que por vezes age em detrimento do próprio habitat natural, alastrando a destruição para o apagamento de sonhos. Ao apagar os sonhos o que se vê é a ausência da cidadania em um mundo gerido por minorias fartas e robotizadas.
Quando isto ocorre, penso: “- Seria melhor voltarmos à nudeza de como estávamos antes de chegarmos ao mundo para recomeçarmos tudo de novo”. Como? Não é fugindo que resolvemos e ainda não daria para retornarmos ao útero materno. O ser humano é o único animal que pode salvar e matar racionalmente? Caso não for, com certeza é o único que tem a mente criminosa. É o único que destrói conscientemente o seu habitat natural, é o mais imundo dos seres e ao mesmo tempo um dos mais delirantes. Sei que muito posso estar equivocada, mas sei também que o mundo é equivocado, o mundo é egoísta quem será mais equivocado?
Com base em tudo do que apontei, acredito sem dúvidas que já passou da hora de se plantar as sementes presentes na Pedagogia da Autonomia amorosamente em nosso século, junto à natureza humana limitada, adubando a “Terra” para que as próximas plantas sejam mais sadias, não seguindo exemplos distorcidos, só assim os futuros habitantes deste planeta poderão ter a chance de serem cidadãos de verdade, pois hoje não existe cidadania plena, há muita terra, semente e adubo, mas a muita seca no poder. A educação formal, não-formal e informal e consequentemente a sociedade reprimida esperam na sede a estação da chuva com esperança.
Imagem disponível em: <http://excessivamentehumano.blogspot.com/2011/08/sementes-de-amor.html>.
Acesso em: 29/09/2011, ás 9:55.
REFERÊNCIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.