Por Amanda Piraino
Nos relacionamos todos os dias com pessoas diferentes. Pessoas que nasceram no sudeste, no sul, no centro – oeste, norte e nordeste do Brasil e até mesmo fora do nosso país. Deparamo-nos com diferentes características físicas e emocionais. Quero abordar neste texto os diferentes sotaques regionais e a relação de preconceito existente com o erro da forma escrita e da fala diferenciada da cotidiana dos paulistanos. Trarei como exemplo o preconceito evidente e absurdo que alguns moradores da cidade de São Paulo têm em relação aos migrantes das regiões do norte e nordeste que vem para esta cidade em busca de melhor condição financeira e oportunidades de trabalho, como também da exclusão de pessoas por conta de seus erros ortográficos.
No Brasil fala-se a língua portuguesa, decorrente do português de Portugal, porém o nosso país é muito diferente de Portugal, logo foram feitas adaptações á nossa língua de acordo com as características brasileiras. Nosso país é muito grande, temos 26 estados e um distrito (Distrito Federal), mais de 5500 cidades (fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1) e possuímos mais de 190 milhões de habitantes. Seria possível em todas as cidades falar a língua brasileira de forma igual? Sem contemplar as características regionais e culturais do ambiente e de seus moradores? Impossível.
Pensando desta forma ficaria fácil compreender que as pessoas são influenciadas pelo meio em que vivem, por suas histórias de vida e cultura. Mas não é esse respeito que vemos todos os dias. Por São Paulo ser uma cidade mais desenvolvida não traz o direito de menosprezar as cidades esquecidas pelos seus governantes e até pelo seu país, por não fazerem parte do polo capitalista, não significa que estas não tenham sua importância para a história e desenvolvimento do Brasil.
Mas porque é tão difícil entender e compreender que as pessoas vivem de formas diferentes e que podem ter maneiras únicas de se expressarem? Porque o que é diferente é difícil de ser aceito. O paulistano fala de uma forma e acredita que esta é a certa, principalmente vivendo em sua cidade natal, não admite novas formas de expressão. Não é porque vivemos em uma cidade que a forma de falar é a correta. O Brasil é um país livre e não é porque uma pessoa nasceu no nordeste que não pode vir á São Paulo buscar oportunidades que lá não tem. Falta na grande maioria da população, o respeito á diversidade e a aceitação de que todos nós somos seres humanos diferentes mas que falamos a mesma língua.
O objetivo da língua é a comunicação e a interação social e todos nós falamos a língua portuguesa, mesmo que esta venha carregada de regionalidades e sotaques. Não podemos admitir o preconceito, discriminação e a chacota contra aqueles que se expressam de formas variadas. O Brasil têm tantos problemas para serem resolvidos com a união da população que não podemos deixar que este preconceito absurdo e sem fundamentos transcorra livremente pela sociedade.
Além do preconceito linguístico, gostaria de trazer como exemplo a discriminação que sofrem pessoas que erram a ortografia. O nosso português é complexo e cheio de peculiaridades e algumas vezes escapam erros quando vamos escrever um bilhete, um texto, etc.
Aceitamos quando é o nosso erro, mas não aceitamos quando é um erro do próximo. Principalmente se este próximo for mais humilde, desprovido das mesmas oportunidades que as outras pessoas, as que as criticam tiveram. Logo são taxados de preguiçosos, “burros” e que não aprendem porque não querem. Não é verdade. Isto é um pensamento egoísta. Ninguém está nesta condição, de pobreza, porque quer e agindo desta forma, discriminando, caçoando e humilhando a pessoa que errou, não irá aprender, pelo contrário, isto criará uma barreira emocional fazendo com que a pessoa não queira mais escrever para não sofrer mais exposição.
É preciso sim reconhecer o erro, mas há diversas formas de abordá-lo e não só na fase adulta onde já foi concluído o ensino escolar, mas também nos primeiros anos da criança até o EJA. Errar é comum, não só na escrita como na fala. Mas não podemos por conta desses erros pontuar o sujeito de forma grosseira e superior, assim fazendo-o desgostar da nossa língua.
Precisamos urgentemente reconhecer o outro como ser humano que têm suas necessidades e carências. Respeitar as diversidades para sermos respeitados como seres únicos que somos. Entendermos o outro como nós queremos ser entendidos também.
A empatia é uma grande ferramenta para a construção do respeito ao outro, precisamos nos colocar na situação de quem discriminamos. É possível transformar o lugar em que vivemos em um ambiente pelo menos um pouco mais justo.
Indicação de Livro: O Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno
Disponíovel em: <http://www.mundodse.com/2011/06/os-8-mitos-do-preconceito-linguistico.html>. Acesso em: 10/09/11
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