segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Carta para Meu Pai...

        Por Geisana Mendes e Silva

            Eu não sei se você se lembra, mas quando nos falamos pela última vez eu tinha onze anos e me recordo de ter lhe perguntado se você já sabia ler, você me disse que sim, mas eu, com tudo aquilo que eu já conhecia do mundo dos adultos sabia ou sentia que você não estava falando a verdade. Eu era muito criança e não poderia lhe questionar; eu sei.  
Hoje, depois de tanto tempo eu retorno com essas linhas para lhe dizer o que eu não pude naquela época.
Talvez você não saiba como estou agora, pois nos afastamos muito e quando eu penso em você vejo duas pessoas tão ligadas pela força do destino, mas tão distantes, como se fôssemos dois estranhos livres de qualquer culpa por tudo que tenha acontecido.
Eu cresci me casei, não tive filho. Por quê?
Porque não estou preparada para isso, não é o que busco para o agora. Não preciso desta condição de mãe para me sentir feliz e realizada, ainda não.
Algo muito maravilhoso aconteceu na minha vida, eu comecei a estudar e foi a melhor coisa que fiz.
A universidade me trouxe uma visão de mundo que eu não tinha antes e principalmente em relação aos outros, as pessoas, como sendo únicas e em constante mudança e crescimento.
 A Pedagogia tem um grande foco no desenvolvimento infantil, mas nesse semestre eu vi que é algo muito mais abrangente, nós temos uma disciplina sobre EJA (Educação de Jovens e Adultos) e é justamente esse o motivo desta carta.
Eu gostaria muito que você voltasse a estudar. Talvez você pense que já está com a idade muito avançada, que não precisa disso porque tem pessoas à sua volta que lhe auxiliam quando você precisa. Mas imagine como seria maravilhoso poder agir por conta própria, pegar um ônibus sozinho sem precisar que alguém lhe avise quando ele está chegando ou entrar no supermercado e reconhecer o preço das coisas sem precisar ficar perguntando para as pessoas.
Leria os cartazes, os remédios, as marcas. Teria um mundo inteiro só para você. Que mágico seria.
Posteriormente faria um curso e conseguiria um emprego melhor, não que a pescaria não seja digna, mas você tem a capacidade de conseguir algo que lhe faça crescer a cada minuto, algo que lhe tire da mesmice de todos os dias e dessa sorte necessária para pescar. Certamente ser pescador exige muita sorte até mais do que técnica.
Se você escrevesse a distância entre nós certamente seria bem menor, pois você nunca respondeu as minhas cartas, nunca se quer mandou um cartão de natal e isso sempre me magoou muito.
Pai volte para a escola. Eu nunca lhe pedi nada e hoje depois de tantos anos estou aqui na condição de professora porque quero o melhor para você e por tudo de bom que a escola me trouxe. Você vai perceber que não estou falando bobagem, no começo será estranho eu sei, mas depois haverá tanta familiaridade com as letras, as palavras, a escrita que você não poderá mais viver sem isto. Fará parte de você ler, escrever em todo e qualquer lugar.
Volte pai... eu te amo.
  
(fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKUMWq0CsjII7fdLMg35ktPY5FxGvdXZJiiO-w2GGP3GqGMji1hGWrddQ1XWuZXUG3dBUa8Hp7bBO2Q1FptfsCiEo5LuuAEsmxCHVPru9Q31B8kG_bvP0po054xU25M5PcU0qOZooJkz7F/s1600/Pai+e+filha.jpg)
                             
                                         
A docente Marta Regina de Paulo propôs ao grupo que escrevessem sobre a Educação de Jovens e Adultos e com isso surge esta carta que foi apresentada no 3º semestre de 2010 no curso de Pedagogia com a temática da Educação de Jovens e Adultos com o docente Edson Fasano. A mensagem foi direcionada a uma pessoa muito querida, alertando sobre a importância de se acreditar que nunca é tarde para recomeçar a estudar.

Nenhum comentário: