segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Invisibilidade da cidadania brasileira

Disponível em: <http://lh4.ggpht.com/_XXCl6n58AFk/TFCHs458XbI/>.
Acesso em: 18/10/2011.

 Por Giselle Stefanelli de Lima

            A cegueira não é apenas uma doença física e orgânica. A invisibilidade virou repertório até o exato momento, mas não se deve acostumar-se com esta imagem opaca, pois a cegueira por mais que não permita enxergar com a visão,  é possível enxergar por outros sentidos ficando ainda mais refinada a percepção do mundo, afinal quem não enxerga a não efetivação das políticas sociais básicas em nosso país? A invisibilidade percorre solta, mas é visível o não suprimento das necessidades básicas.
            Para o intelectual Milton Santos em O Espaço do Cidadão (2000) a forma “superior” de capitalismo é uma das principais cegadoras, tentando cegar a população de seus direitos e até de seus deveres, ou seja, da concretização da cidadania plena (p. 6). Vive-se ainda no território nacional uma cidadania incompleta, ou melhor, praticamente invisível de tão pequena que mal aparece. O Brasil vive ainda hoje o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago (1995).
            Será que há cidadãos neste país? (SANTOS, 2000, p. 7). Realmente se percebe que a dignidade está bem longe e a economia que movimenta o mundo capitalista é míope. É um absurdo saber que as pessoas da mesma espécie se destroem e algumas falarem que é o destino, sendo que os mais fortes prevalecerão sobre os mais fracos, é a seleção natural que faz parte da História. Será mesmo só isso? A falta de cidadania é oriunda da seleção natural ou da seleção de classes?
            Quem ama a existência não quer viver como se fosse de outro planeta, às vezes seria até melhor se fosse possível, quem sabe em um planeta não míope a vida seria mais digna? Perguntas, sem respostas, porém sempre em busca de uma explicação – não aquelas esfarrapadas das marionetes do sistema capitalista e da visão meramente neoliberal –, mas respostas que realmente recuperem a visão nem se for em partes da esperança pela vida.
            Só quem vive em si para com o outro enxerga a beleza das relações humanas não classificatórias pelo o que fazemos, mas pelo o que somos. “O respeito ao individuo é a consagração da cidadania” (SANTOS, 2000, p. 7), como seria aprazível se desde a tenra idade a sociedade investisse na educação informal, não-formal e formal de maneira realmente ética, seguindo uma moral utópica pela existência humana amorosamente possível e não neoliberal. A vida com certeza seria mais visível se o capitalismo usa-se lentes corretivas não invisíveis.

 
REFERÊNCIA


 SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 5 ed. São Paulo: Studio Nobel, 2000. 142 p.  

 SARAMAGO, José. O ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 310 p.

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