sábado, 29 de outubro de 2011

Não podemos fechar os olhos, pois a exclusão ainda existe e é bem real!

O grupo Unidos para Incluir acredita que não se pode fechar os olhos para o que é visível. Você quer fechar ou não? De que lado você está: da educação dos brasileiros ou dos "terroristas" e racistas?

Disponível em: <http://www.visaomundial.org.br/noticias/view/muro-de-escola-e-pichado-com-a-frase-vamos-cuidar-do-futuro-de-nossas-criancas-brancas.html>. Acesso em: 29/10/11. 

Carta em solidariedade a Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes/SP

   Vamos cuidar do futuro de nossas crianças, sim! Combatendo o racismo, hoje!

Lucimar Rosa Dias
1 Professora da UFMS/ Consultora do CEERT.
2 Diretora Executiva do CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
3 SME-SP/CEERT/Fórum Paulista de Educação Infantil
Maria Aparecida da Silva Bento
Waldete Tristão Farias Oliveira

Em, 2011 foi instituída a campanha do UNICEF “Por uma infância sem racismo”, e também o ano internacional do afrodescendente, definido pela ONU, marcos importantes para estimular ações em prol da igualdade racial na educação. Além disso, a educação brasileira em sua lei maior institui como obrigatório o trabalho, permanente, com a cultura afro-brasileira e africana. Parecem medidas simples e de baixo impacto para superar as desigualdades raciais tão agudamente vividas pela população negra brasileira e de modo especial pelas crianças negras e indígenas.
Segundo dados divulgados no 2º Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010 em 2008, 84,5% das crianças negras de até 3 anos não frequentavam creches enquanto 79,3% das crianças branca estão nesses espaços. Em relação às crianças negras de 6 anos, 7,5% estavam fora de qualquer tipo de instituição educacional enquanto 4,8% das crianças brancas estavam nesta situação e por fim somente 41,6% das crianças negras de 6 anos estavam no sistema de ensino seriado comparado a 49% das crianças brancas.
Diante desses dados as medidas assinaladas se coadunam com a cobrança dos movimentos sociais para a instituição de políticas que modifiquem o quadro de desigualdade racial que também atinge às crianças. No entanto, quando gestores e professores comprometidos com uma educação que favoreça o pleno desenvolvimento da criança incluem no seu fazer pedagógico ações que busquem romper com a dominação de raça, cumprindo a legislação educacional vigente e dando concretude as demandas da agenda internacional, acontecem fatos da magnitude do que ocorreu na escola de educação infantil Guia Lopes, na zona norte de São Paulo que relato a seguir.
Depois da festa junina afro-brasileira, da oficina de toques de tambores e de outras ações que trabalharam a diversidade racial. No sábado do dia 16/10/2011, o muro da escola amanheceu pichado com a seguinte frase: "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”. Escrita entre duas suásticas, como podemos ver na imagem posta. Sabemos que o uso desse símbolo para fins de divulgação do nazismo é proibido, aliás, texto posto na lei que institui o crime de racismo. Mera coincidência?
           Claro que não. Os que escreveram, falam de um lugar muito bem definido. Ameaçam e sabem por quê. São pessoas assustadas com a possibilidade de ver o desmantelamento de uma educação que privilegia um único saber, que desmerece a construção cultural da população negra. Sabem que o trabalho realizado pela instituição, em questão, tem repercussões mais profundas do que simplesmente mudar o currículo. Assustam-se ante a existência de crianças negras empoderadas, cientes de seu valor como sujeito histórico, da beleza de seus cabelos e cor de pele da relevância de suas vidas.
O recado foi certeiro e de mão dupla. Para a equipe pedagógica que vem realizando um trabalho notável e colaborou para o desenvolvimento de matéria didático-pedagógico como parte do projeto da Rede Educar para a Igualdade Racial na Educação Infantil (Ufscar/MEC/CEERT), incluindo várias referências do patrimônio cultural afro-brasileiro e africano nas atividades educacionais desenvolvidas, as suásticas. Ou seja, a violência própria do nazismo, a ameaça, a instituição do medo. Para as famílias uma invocação da solidariedade da raça, à defesa dos privilégios, um chamado à supremacia da brancura, à preservação de uma educação eurocentrada.
Porém, o desfecho talvez surpreenda os pichadores. A reação foi imediata: protesto em diferentes redes virtuais e repercussão na mídia em todo o Brasil demonstrando que há uma resistência articulada, e nem esta escola, nem qualquer outra estará sozinha na grande tarefa de cuidar do futuro das crianças, garantindo-lhes uma educação sem discriminação e promotora da igualdade racial.
Serão as crianças mobilizadas pela escola que darão a resposta mais emblemática a este episódio. No lugar das suásticas e da frase racista, desenhos infantis, pois como dizia o grande mestre Paulo Freire “ensinar exige a convicção de que mudar é possível”, nós estamos convictos que a educação infantil tem um papel fundamental na construção de mentalidades que serão incapazes de uma pichação desse tipo. Com esse desfecho a escola cumpre efetivamente sua parte nesse processo e esperamos que as autoridades também façam a sua, no sentido de coibir novas manifestações de mesmo teor e protegendo a escola, as famílias e a sociedade brasileira do racismo.

Com vista no que foi lido e refletido, só podemos chegar a uma conclusão: a educação tem muito trabalho ainda para tentar humanizar a sociedade e tentar buscar transformar a mentalidade preconceituosa. Assim se deve buscar com as crianças de hoje uma educação emancipatória como proposta pela Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes em São Paulo. Não bastam as escolas apenas terem um feriado de Conscientização Negra uma vez ao ano e comemorarem uma vez ao ano o Dia do Índio. São necessárias ideias inclusivas e abrangentes para que assim se  possam ter adultos no amanhã com uma mentalidade diferente da vigente. Os ensinamentos devem começar desde cedo para evitar crostas de imundície e opressão. As crianças não tem culpa de mentalidades tão pequenas vindas dos adultos, precisamos agir, pequenos passos podem percorrer grandes distâncias, caso cada um der um pequeno passo a Educação já poderá ver traços de mudança. Por isso, vamos implantar propostas inclusivas em nossas escolas brasileiras!

Por Unidos para Incluir

REFERÊNCIA

DIAS, L.; , BENTO, M.; OLIVEIRA, W. Vamos cuidar do futuro de nossas crianças, sim! Combatendo o racismo, hoje! Disponível em: <http://mariafro.com.br/wordpress/2011/10/20/vamos-cuidar-do-futuro-de-nossas-criancas-sim-combatendo-o-racismo-hoje/>. Acesso em: 29/10/11.

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