domingo, 30 de outubro de 2011

Educação de Jovens e Adultos - Cordel

EDUCAÇÃO É UMA LUTA 

Não consigo entender essa tal educação
Não foi feita para todos
Isso é pura enganação
Quem quiser tirar a prova
Basta só olhar pra trás
Tem criança pela rua pedindo esmola demais.

Quando eu era pequenina
Minha mãe sempre dizia
Vê se vai estudar menina
Para ser alguém na vida
Agora que eu cresci
Já consigo entender
Se você não vai à escola
Muito tempo vai perder.

Conheci um  tal de EJA
Estudando alfabetização
Meus parentes já fizeram
Isso é moda entre o povão
Que precisa trabalhar
Em vez de fazer lição.

Mãe levantava cedinho para poder trabalhar
Fazendo faxina o dia inteiro
Até não poder aguentar
Quando davam sete horas tinha que ir estudar
Quase caindo de sono
Mas tendo que aguentar.

Seu diploma ela tirou
Com orgulho ela ficou
Seu nome é Maria da ajuda
Mas podem chamar de luta
Porque só lutando muito
Com todas as dificuldades
Teremos grande sucesso
Essa é a mais pura verdade.

Por Geisana Mendes e Silva


Disponível em: <http://enquantoisso.com/curso-gratis-online-educacao-de-jovens-e-adultos-e-onde-fazer/>. Acesso em: 30/10/11.

REFERÊNCIA

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. 253 p.

sábado, 29 de outubro de 2011

Não podemos fechar os olhos, pois a exclusão ainda existe e é bem real!

O grupo Unidos para Incluir acredita que não se pode fechar os olhos para o que é visível. Você quer fechar ou não? De que lado você está: da educação dos brasileiros ou dos "terroristas" e racistas?

Disponível em: <http://www.visaomundial.org.br/noticias/view/muro-de-escola-e-pichado-com-a-frase-vamos-cuidar-do-futuro-de-nossas-criancas-brancas.html>. Acesso em: 29/10/11. 

Carta em solidariedade a Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes/SP

   Vamos cuidar do futuro de nossas crianças, sim! Combatendo o racismo, hoje!

Lucimar Rosa Dias
1 Professora da UFMS/ Consultora do CEERT.
2 Diretora Executiva do CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
3 SME-SP/CEERT/Fórum Paulista de Educação Infantil
Maria Aparecida da Silva Bento
Waldete Tristão Farias Oliveira

Em, 2011 foi instituída a campanha do UNICEF “Por uma infância sem racismo”, e também o ano internacional do afrodescendente, definido pela ONU, marcos importantes para estimular ações em prol da igualdade racial na educação. Além disso, a educação brasileira em sua lei maior institui como obrigatório o trabalho, permanente, com a cultura afro-brasileira e africana. Parecem medidas simples e de baixo impacto para superar as desigualdades raciais tão agudamente vividas pela população negra brasileira e de modo especial pelas crianças negras e indígenas.
Segundo dados divulgados no 2º Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010 em 2008, 84,5% das crianças negras de até 3 anos não frequentavam creches enquanto 79,3% das crianças branca estão nesses espaços. Em relação às crianças negras de 6 anos, 7,5% estavam fora de qualquer tipo de instituição educacional enquanto 4,8% das crianças brancas estavam nesta situação e por fim somente 41,6% das crianças negras de 6 anos estavam no sistema de ensino seriado comparado a 49% das crianças brancas.
Diante desses dados as medidas assinaladas se coadunam com a cobrança dos movimentos sociais para a instituição de políticas que modifiquem o quadro de desigualdade racial que também atinge às crianças. No entanto, quando gestores e professores comprometidos com uma educação que favoreça o pleno desenvolvimento da criança incluem no seu fazer pedagógico ações que busquem romper com a dominação de raça, cumprindo a legislação educacional vigente e dando concretude as demandas da agenda internacional, acontecem fatos da magnitude do que ocorreu na escola de educação infantil Guia Lopes, na zona norte de São Paulo que relato a seguir.
Depois da festa junina afro-brasileira, da oficina de toques de tambores e de outras ações que trabalharam a diversidade racial. No sábado do dia 16/10/2011, o muro da escola amanheceu pichado com a seguinte frase: "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”. Escrita entre duas suásticas, como podemos ver na imagem posta. Sabemos que o uso desse símbolo para fins de divulgação do nazismo é proibido, aliás, texto posto na lei que institui o crime de racismo. Mera coincidência?
           Claro que não. Os que escreveram, falam de um lugar muito bem definido. Ameaçam e sabem por quê. São pessoas assustadas com a possibilidade de ver o desmantelamento de uma educação que privilegia um único saber, que desmerece a construção cultural da população negra. Sabem que o trabalho realizado pela instituição, em questão, tem repercussões mais profundas do que simplesmente mudar o currículo. Assustam-se ante a existência de crianças negras empoderadas, cientes de seu valor como sujeito histórico, da beleza de seus cabelos e cor de pele da relevância de suas vidas.
O recado foi certeiro e de mão dupla. Para a equipe pedagógica que vem realizando um trabalho notável e colaborou para o desenvolvimento de matéria didático-pedagógico como parte do projeto da Rede Educar para a Igualdade Racial na Educação Infantil (Ufscar/MEC/CEERT), incluindo várias referências do patrimônio cultural afro-brasileiro e africano nas atividades educacionais desenvolvidas, as suásticas. Ou seja, a violência própria do nazismo, a ameaça, a instituição do medo. Para as famílias uma invocação da solidariedade da raça, à defesa dos privilégios, um chamado à supremacia da brancura, à preservação de uma educação eurocentrada.
Porém, o desfecho talvez surpreenda os pichadores. A reação foi imediata: protesto em diferentes redes virtuais e repercussão na mídia em todo o Brasil demonstrando que há uma resistência articulada, e nem esta escola, nem qualquer outra estará sozinha na grande tarefa de cuidar do futuro das crianças, garantindo-lhes uma educação sem discriminação e promotora da igualdade racial.
Serão as crianças mobilizadas pela escola que darão a resposta mais emblemática a este episódio. No lugar das suásticas e da frase racista, desenhos infantis, pois como dizia o grande mestre Paulo Freire “ensinar exige a convicção de que mudar é possível”, nós estamos convictos que a educação infantil tem um papel fundamental na construção de mentalidades que serão incapazes de uma pichação desse tipo. Com esse desfecho a escola cumpre efetivamente sua parte nesse processo e esperamos que as autoridades também façam a sua, no sentido de coibir novas manifestações de mesmo teor e protegendo a escola, as famílias e a sociedade brasileira do racismo.

Com vista no que foi lido e refletido, só podemos chegar a uma conclusão: a educação tem muito trabalho ainda para tentar humanizar a sociedade e tentar buscar transformar a mentalidade preconceituosa. Assim se deve buscar com as crianças de hoje uma educação emancipatória como proposta pela Escola Municipal de Educação Infantil Guia Lopes em São Paulo. Não bastam as escolas apenas terem um feriado de Conscientização Negra uma vez ao ano e comemorarem uma vez ao ano o Dia do Índio. São necessárias ideias inclusivas e abrangentes para que assim se  possam ter adultos no amanhã com uma mentalidade diferente da vigente. Os ensinamentos devem começar desde cedo para evitar crostas de imundície e opressão. As crianças não tem culpa de mentalidades tão pequenas vindas dos adultos, precisamos agir, pequenos passos podem percorrer grandes distâncias, caso cada um der um pequeno passo a Educação já poderá ver traços de mudança. Por isso, vamos implantar propostas inclusivas em nossas escolas brasileiras!

Por Unidos para Incluir

REFERÊNCIA

DIAS, L.; , BENTO, M.; OLIVEIRA, W. Vamos cuidar do futuro de nossas crianças, sim! Combatendo o racismo, hoje! Disponível em: <http://mariafro.com.br/wordpress/2011/10/20/vamos-cuidar-do-futuro-de-nossas-criancas-sim-combatendo-o-racismo-hoje/>. Acesso em: 29/10/11.

domingo, 16 de outubro de 2011

DIA DOS PROFESSORES


UMA DATA ESPECIAL
15 de Outubro de 2011


Mais uma vez - Renato Russo

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=scQihBjz9RY>. Acesso em: 18/10/2011.

"Devo sempre lapidar a minha alma para que eu possa ser uma educadora que sonhe junto com os educandos, acreditando no potencial de cada um, não deixando nunca de lutar pelas boas novas".
Por Giselle Lima


Já se passou mais um ano de comemoração pela nobre profissão docente.

Gostaria de parabenizar a todos e a todas que exercem a docência e aos que estão caminhando para tal sonho. 


          O mundo precisa de educadores e não somente de professores, sejamos estimuladores de sonhos e não abortadores, não sejamos apenas proferidores de técnicas. Humildemente busquemos um mundo mais digno que transborde com mais calor humano. Aprendi que o educador não se fixa em status, pois enxerga para além da materialidade e se sacia com as maravilhas da vida, por exemplo, a brisa da manhã, café com leite bem quentinho, um pão fresquinho, um passeio em família, uma abraço da pessoa amada, uma roda de música, molhar os pés na beira da praia, olhar o horizonte, até mesmo escalar uma árvore, comer fruto tirado do pé, ler um bom livro, apreciar uma boa música... uma qualidade do educador é fazer as pessoas imaginarem, como seria bom se todos os professores fizessem isso em suas aulas.

          Os títulos, o status, as pesquisas realizadas, as dedicatórias são vistas para os educadores como presentes que a vida oferece e não meramente como "compras" conquistadas pelo esforço gasto com as horas sem dormir e o dinheiro investido. A educação não é status, é vida! Há uma total inversão de valores. Porém, mesmo em tantas inversões, por vezes estes presentes simplesmente aparecem para quem vê a educação como vocação ontológica para ser mais que Paulo Freire descreve no seu livro Pedagogia da Autonomia e não como mero espaço para emprego.

          O educador de verdade não liga para os luxos, não faz acepção de pessoas, não tem tempo para gastar com banalidades, pois dá valor para a essência dos fatos, fazendo o luxo parte de um sistema excludente e elitista, onde infelizmente a educação está contaminada, não estou colocando que não se pode lutar para se conquistar uma vida digna, não é isso, apenas escrevo que as conquistas não podem ser ganhas por meio de acordos desonestos e conquistadas por cima do sofrimento dos outros. O educador deve ver seus educandos com um olhar de amor, esperando o melhor para eles, nunca os comparando como concorrentes, mas como seus parceiros e seres humanos com inúmeros direitos.

          Educador antes de tudo é sensível, porém questionador, maleavelmente crítico, valoriza a sinceridade, afetividade e o respeito, ama viajar no mundo das ideias, sim o educador é um eterno aprendiz. Educador brinca com o tempo e por vezes se recolhe para analisar, cai por vezes e se machuca, porém tem sempre uma força que o levanta. O livro "Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo" me fez refletir sobre o ser educador, pois ser educador não é carregar livros e pastas debaixo do braço os perfumando com diversos tipos de desodorantes (WERNECK, 2009, p. 18) e desfilar pelos corredores, com crachás e óculos tipo nerd. Isto não prova a competência docente, é apenas um esteriótipo do senso-comum.

          Aprendi também outras necessidades, aprendi que os professores devem valorizar as situações singelas do cotidiano que são passageiras e analisar constantemente as suas práticas e as suas intenções para exercer a docência. Descobri que adentrar na docência como educadora e não apenas pelo título a ser conquistado, exige muito esforço e antes de tudo muito amor, não é qualquer coisa, estarei mexendo com sonhos, com vidas, com motivações, com pensamentos diversos, com mentes e corpos, não esquecendo a dimensão espiritual de cada um. Por isso escrevo, não adianta ter somente professores, pois o mundo precisa de educadores, o Brasil precisa de educadores.

          A educação não pode continuar por fachadas como está, vamos continuar cuidando dela, pois mudanças são necessárias! A comunicação nas relações humanas é primordial, aprendi que os educadores devem ser líderes flexíveis, não generais indiferentes e pessoas passatempos sem postura ou conteúdo e até sem ambas. Chega de autoritarismo, a mesma só faz perder a autoridade! Chega de máscaras na educação! Sejamos uma equipe de docentes e discentes em favor de uma educação de qualidade. Inclusiva na educação formal da creche até o pós-doutorado. Não podemos mais limitar a abrangência da Pedagogia somente até os primeiros anos escolares, a educação deve estar em tudo, é muito necessário a presença de pedagogos nos colégios, nas faculdades, nas empresas, nas classes hospitalares, nas ONGs, na FEBEM, no Conselho Tutelar, nas igrejas, ou seja, não tem um lugar se quer ou um curso se quer que não necessite de um avante pedagógico. Lutemos para abranger a Pedagogia, levando a educação para todos os cantos possíveis, nunca esquecendo em nenhum processo educatrivo da importância de uma educação informal sólida e humanística.

Quero ser educadora e em cada um de meus Professores Educadores da Pedagogia tenho um pedacinho de referência!

Com carinho,
Giselle


Abraços para todos os meus Professores Educadores!
Eu ainda chego lá, estou contando com vocês!


VOU QUERER CULTIVAR A EDUCAÇÃO DO ABRAÇO!

Disponível em: <http://chacomvirgula.wordpress.com/category/abraco/>. Acesso em: 15/10/2011.



"A competência técnico-científica e o rigor de que o professor não deve abrir mão no desenvolvimento do seu trabalho, não são incompatíveis com a amorosidade necessária à relações educativas. Essa postura ajuda a construir o ambiente favorável à produção do conhecimento onde o medo do professor e o mito que se cria em torno de sua pessoa vão sendo desvalados. É preciso aprender a ser coerente. De nada adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável a mudanças" (OLIVEIRA apud FREIRE, 1996, p. 10).


REFERÊNCIAS



FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.

WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. 26 ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 128 p.

Por Giselle Lima

sábado, 15 de outubro de 2011

Reflexão sobre o texto Pontuação, Gramática e Legibilidade de Telma Weisz

                                                                             
Por Fabiana L. M. de Aquino


Disponível em: <http://www.sindinoticias.com/noticias,12777,pontuacao.html>.
Acesso em: 15/10/2011.


Leitura, elementos gráficos e compreensão, podem ser instrumentos de exclusão e inclusão, pois conhecer ortografia e entender a gramática da legibilidade que a autora define como um conjunto de procedimentos da escrita objetivando instruir a leitura; podem ao mesmo tempo incluir como excluir, afinal estes sinais gráficos possibilitam a leitura de mundo, ou seja, o sistema de pontuação gráfica serve como uma forma de comunicação entre o leitor e o escritor, porém muitas vezes acaba limitando os leitores que não tem muito conhecimento de escrita, pois quem não conhece o significado dos sinais acaba ficando limitado como leitor, pois os sinais gráficos contribuem para uma compreensão mais aprofundada da leitura, transpondo a alfabetizando para a função do letramento.
O que deve se chamar a atenção nesta reflexão é justamente ressaltar que muitas vezes a limitação é dada pela própria escola que deixa de ensinar o que é realmente importante, limitando os educandos ao simples ato da reprodução sem que eles entendam e compreendam como utilizar este conhecimento em suas vidas, os recursos utilizados no texto quando bem trabalhados podem dar autonomia leitora ao educandos e quando eles sabem utilizá-los possibilita a construção de um conhecimento significativo e com sentido para os mesmos.
O conhecimento que ainda é passado erroneamente nas escolas de redes públicas e particulares é o mesmo, não tem sentido apresentar espanto, pois a educação em geral está ensinando errado. A consciência de pontuação que está sendo passada é que “o ponto final serve para descasar, a vírgula para dar uma respiradinha e exclamação e interrogação para indicar entonação”, pode parecer algo engraçado, mas deve-se ensinar com mais conteúdo e uma forma de se trabalhar isto com as crianças é dar exemplos e pedir opiniões dos mesmos.  A escola está contribuindo para o fracasso dos estudantes brasileiros, do futuro da nação, e impossibilitando que estes assumam uma posição mais crítica em relação ao mundo que vivem, limitando as mudanças, afinal para mudar é necessário ao menos entender e se interessar pelo básico e a partir dele abrir novos leques de estudos e aprendizagens.
Quem tem a visão afinada percebe que a cada dia o ensino está legitimando a educação bancária que Paulo Freire (2011) apresentou em seu livro Pedagogia do Oprimido e assim limitando a Pedagogia da Autonomia (1996). Quando se aponta no texto que a exclusão está presente, outro fator alarmante percebido é que o sistema excludente e opressor acaba cada vez mais incentivando o abandono da escola, limitando a educação formal e a sua importância para a vida. Muitos professores acabam limitando os educandos sem perceber e sem refletir sobre a prática e sobre o que realmente é ensinar. Acabando assim esquecendo o real objetivo do ensino, como o da Lingua Portuguesa onde o seu objetivo deveria ser o de produzir a criatividade de produção de texto e criar uma visão crítica do educando quanto as suas produções, pois o ensino da ortografia é uma convenção que serve como um dos pontos de partida para o aprendizado, alfabetização e letramento.
Está mais que na hora de mudar a Receita de Alfabetização como é descrita por Marilene de Carvalho, ainda muito vista nos primeiros anos escolares e o pior, a questão se expande para além da alfabetização atingindo a outras áreas e anos. Ainda se vê o predomínio de ensino limitante como “receita”, impedindo a mistura dos ingredientes e a descoberta por outras combinações. A consciência que o educador tem que ter para que o educando tenha legibilidade em sua alfabetização e letramento, podendo se comunicar através deste conhecimento e se incluir e também de reconhecer que o erro nas fases iniciais da alfabetização é normal e é bom, pois a escola e o lugar ideal para se errar e poder através da mediação do professor refletir sobre o erro, e cabe ao educador partir das dificuldades dos alunos para construir um aprendizado significativo ao invés de fazer o educando seguir para um caminho de exclusão do mundo letrado, e não dar receita pronta, mas sim os ingredientes e um bom ensino, pois só desta forma aprendizagens significativas serão possíveis. Por fim, não há uma única maneira de se ensinar, como não há apenas uma receita de bolo, uma única receita enjoa mais cedo ou mais tarde, é necessário variar os sabores, as coberturas e os recheios. O educador deve ser ousado e praticar constantemente os seus dotes culinários em aula. É necessário enxergar os educandos não como números, mas como futuros chefs requintados e ver em seus erros novas possibilidades para a alfabetização.

REFERÊNCIAS


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.


FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. 253 p.


Programa de formação de professores alfabetizadores.
Texto: Pontuação Gramática da Legibilidade.
Autora: Telma Weisz.

O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores é um programa criado pelo Ministério da Educação lançado em dezembro de 2000, para orientar o trabalho pedagógico e ajudar a enfrentar alguns dos desafios do professor em sua prática.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ESCOLA COMO ESTIMULADORA DE CIDADÃOS LETRADOS

           Por Fabiana Marques de Aquino
            
            Estimular os educandos a se tornarem cidadãos letrados exige da função docente e escolar uma ação consciente de suas funções e que propicie um espaço democrático, onde o processo educativo aconteça de maneira significativa, sendo que por vezes isto pode ser uma tarefa difícil e trilhar este caminho pode apresentar conflitos, pois não há uma direção unilateral, são inúmeras vidas diferentes, e sim diversas possibilidades. Com isto pode-se pensar em atividades de leitura como uma destas possibilidades, pois trabalhar a leitura de forma significativa com os educandos é como direcioná-los para uma posição crítica do mundo ao qual vivem e assim o educador e a escola ganham uma postura estimuladora iniciando um processo educativo que tenha importância e sentido para os estudantes.
 Uma etapa indispensável deste processo é a aproximação do educador dos educandos para que assim possa conhecê-los melhor e descobrir seus anseios e motivações, esta etapa é fundamental, afinal, não se adquiri o prazer pela leitura com “um passe de mágica”, mas se adquiri através de um processo, o educador, por exemplo, deve estar próximo para saber qual livro pode interessar mais a um do que a outro. A leitura faz parte do processo de alfabetização, por isso oferecer às crianças formas de se interessarem pela leitura e tirarem opiniões reflexivas da mesma, dando sentido ao que é lido, é fundamental para o letramento, é preciso ler além das palavras e linhas e esta habilidade deve ser cultivada desde cedo. A escola tem a função de estimular o nascimento de cidadãos letrados, críticos, reflexivos, autônomos, respeitosos e conscientes de suas ações.
Com isto pensar em uma educação que tenha sentido aos educandos é antes de tudo respeitá-los, alfabetizando-os por meio de suas realidades particulares e coletivas, podendo neste último caso, fazer uma atividade que levante várias leituras diferentes mostrando a diversidade de identidades presentes em sala de aula. Organizar uma atividade que tenha como ponto de partida apresentar a realidade dos educandos, além de mostrar a diversidade, ajuda os estudantes a refletirem sobre outros pontos de vistas, dessa forma estimulando o respeito mútuo, propicia o pensar autônomo e a criticidade, tendo a possibilidade dos estudantes trocarem informações de trechos de livros enriquecendo seus vocabulários. O letramento segue a alfabetização e deve fazer parte do cotidiano escolar, não se pode resumi-la nas aulas de língua portuguesa, pois dentro de outras áreas também são necessárias a interpretação e o aprofundamento do que é lido e analisado.  
A escola deve ser um espaço que cultive perpetuamente a aprendizagem significativa e que respeite as individualidades e ritmos individuais, um espaço com um ambiente rico em aprendizagens que vão além da alfabetização e caminhem para o letramento, estimulando dentro deste processo o imaginário e a criticidade autônoma dos educandos, os preparando para a vida para além dos muros da escola. A cidadania deve ser estimulada desde a tenra idade e o letramento propicia a abertura de opiniões e visões. Está mais que na hora da escola reviver a função social que exerce, não mais reprodutora de conteúdos sem sentido, mas que possibilite uma consciência de mundo, pensar assim é pensar em  uma educação inclusiva que busca a harmonia em um mundo tão deturpado. A escola pode e deve ser um dos percursos a ser percorrido para um mundo melhor, construindo junto com os estudantes a consciência de cidadania por meio do letramento, pois conscientizar é incluir os educandos em suas responsabilidades como cidadãos, para assim, fazerem escolhas na vida de maneira autônoma a partir da leitura de mundo.

 Disponível em: < http://3rtudoseaproveita.blogspot.com/2011/01/o-mundo-em-nossas-maos.html>.
Acesso em: 14/10/11.

REFERÊNCIA
Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Educação é direito de todos!

Disponível em: <http://mensagens.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/sabedoria-e-paciencia-na-educacao/sabedoria-e-paciencia-na-educacao-2.jpg>. Acesso em: 13/10/2011. 

Por Letícia Pereira Correia

Ser professor das camadas sociais desfavorecidas é muito importante, principalmente se temos a ideologia de que o ensino vai melhorar no Brasil, mas devemos agir, pois é necessária a conscientização de todos da área da educação, pois somos detentores do poder de oferecer educação para todos e deveras para aqueles que necessitam, a educação deve ser para todos.
Em nosso contexto histórico vimos que a educação foi por muito tempo aristocrática, ou seja, para aqueles que detinham poder ou dinheiro e desta forma a educação para os chamados plebeus era escassa e por vezes não aprendiam nem o básico.
Quando as camadas populares começaram a ter o direito à educação, era apenas o necessário que é ler, escrever e a fazer cálculos, ou seja, não era oferecido a esses alunos o direito e acesso a cultura e arte e nem a bagagem cultural era levada em conta.
Muitos anos se passaram e ainda não evoluímos muito no que diz respeito à educação, nossa realidade ainda é preocupante, atualmente existe o direito, porém não está exercendo sua função, pois a educação de qualidade não tem sido para todos.
Por esse motivo é necessário que haja preparação para nossos profissionais para que se possa levar a educação a todos, principalmente as camadas sociais silenciadas e excluídas.
Em minha visão assistência é um auxilio de caráter supletivo, ou seja, é um serviço social.  E entende-se por política social básica o que está nos projetos que envolvem a educação (escolas), saúde (postos de saúde e hospitais) e segurança (delegacias).
Creio que o que leva as pessoas à exclusão é a sociedade e preconceito a ela vinculado. Ao não aceitar diferenças, excluímos o que não conhecemos e não aceitamos o novo, é necessário desmistificar o passado cheio de pré-conceitos e abrir nossas mentes ao desconhecido de forma a aceitar, respeitar e conviver com as diferenças, pois afinal todos somos humanos só que temos particularidades e culturas diversas. Somente desta forma chegaremos ao que chamamos de evolução.
Assim como Paulo Freire temos que ter esperança de um mundo sem opressão e sem exclusão e que podemos mudar o que acreditamos estar errado, é preciso conhecer para transformar e colocar em prática uma educação libertadora, desta forma é necessário aceitar que sempre temos o que aprender, portanto temos que desenvolver nossa leitura de mundo no contexto da sociedade. 

A EXCLUSÃO DOS SILENCIADOS


Por Camila Aparecida de Araujo
 
Hoje, sabemos que a escravidão no Brasil e nas Américas promoveu, de forma brutal, o despovoamento do continente africano, tanto homens como mulheres e crianças sofreram esse abuso, mas antes da chegada dos africanos tal brutalidade já ocorria com os índios.
Quando se trata em abordar essa cultura silenciada, as escolas, como exemplo, não sabem trabalhar com crianças, jovens e adultos de classes sociais mais pobres, que em sua grande maioria são de negros e mestiços, pois, os livros didáticos ainda estão permeados por uma concepção positivista, cheias de fatos e feitos históricos, que geralmente são os brancos como heróis, desprezando assim a participação da minoria, que muitas vezes só aparecem de forma preconceituosa e violenta.
A Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDBN) diz que, “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia” (art.26, § 4º), reconhecendo assim a necessidade de uma educação multicultural, sem nenhum tipo de discriminação cultural, social, sexo, etnia entre outras; cabendo ao professor se posicionar contra qualquer tipo de tais atitudes, esperamos assim que a escola assuma seu papel de socializar a  valorização e difusão da cultura.
Sabemos que a escola ainda tem um longo caminho a ser percorrido para que tal atitude seja, de fato, um instrumento de afirmação de uma identidade pluricultural, por isso, devemos propiciar por meio do ensino o conhecimento de nossa diversidade cultural e pluralidade étnica.
                                       

Disponível em: <http://psolriodasostras.files.wordpress.com/2011/08/grito.jpg>. Acesso em: 13/10/11.


REFERÊNCIA


BRASIL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 03/11/11.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Educação X Doutrinação

Por Anna Paula Strefezza

                Começarei com a uma história de Rubem Alves sobre dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para um circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar de monociclo, e seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender.
                Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O Q.I. é muito baixo...” Ficou abandonado num canto, sem retratos nem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou.
                Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E, assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.
                Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto que seu amigo de Q.I. alto brincava tristemente com a bola, último presente.
                Finalmente, chegaram e foram soltos. O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que tão bem sabia. Era só o que sabia fazer.
                Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para o circo. O problema é que ela não presta para viver.
                Por muitos e muitos anos, a pedagogia buscou inspiração nos modelos trabalhistas, inspirados por Taylor e Ford acreditávamos que a disciplina e o condicionamento aumentavam a produção e ao lucro. Valorizámos o trabalho incansável e segmentado. Separávamos a cabeça dos braços, do corpo e do coração. E sabíamos que uns serviram para pensar e outros apenas para executar, e fazíamos tal distinção nas escolas, afinal que lugar melhor poderia ter para preparar os seres humanos para a vida?
                E assim passamos a transformar crianças e jovens que carregavam em si um espírito selvagem, livre e cheio de ideias e sonhos em crianças condicionadas, temorosas, preocupadas em se destacar em sala de aula, para garantir chances de se destacarem no mercado de trabalho, crianças que buscavam a almejada estrela dourada na testa como representação de estarem no rumo correto, de se encaixarem num perfil desejado.
                Pecamos ao aceitar um modelo vindo de pessoas não especializadas em educação e atrevo-me a dizer, não especializadas em seres humanos, deixamo-nos ser adestrados como animais, sim animais, seres não dotados de razão e raciocínio. Mas os tempos mudaram, hoje temos um imenso avanço tecnológico, somos seres mais evoluídos, esclarecidos, dotados de um pensamento mais crítico, somos mais experientes. Mas, se isso é um fato, porque então nossas salas de aulas são exatamente as mesmas? Onde está nosso pensamento libertador, nossa educação para a autonomia? Também foram condicionadas.
                Condicionadas porque quem leva a educação de hoje é o aluno condicionado do passado, e pensar fora da caixa, leva tempo, é cansativo, demanda demais. E aí, por mero comodismo, repassamos a bola e doutrinamos mais 10, 100, 1000. Transformamos espíritos livres e ursos de circo.  Não estou alegando que não há educadores libertadores, só estou afirmando que ainda há uma grande maioria de doutrinadores, mudar a história da educação não será fácil.
                Acredito ser uma batalha imensa e dolorosa, principalmente pelo grande interesse político e social, mas cabe a nós, novos educadores, quebrarmos uma por uma as algemas de nosso povo.

(fonte: http://www.theweem.com/wp-content/uploads/2011/08/circus_bear_tn.jpg)

Referencias: Rubem Alves, em Estórias de quem gosta de ensinar, 1993. Editora Papirus 11ª edição.



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: TRÍADE DINÂMICA

Por Giselle Lima

          No mundo nada é estático tudo é dinâmico, mas para que haja equilíbrio se faz necessária a presença da ação sinérgica de tudo o que o envolve. Na educação não é diferente, mas muitas vezes o que se percebe é um transitar desordenado no tempo e no espaço, acarretando a uma aparente involução de sua ação no mundo. Uma saída seria investir na educação solidária e humanizadora, sendo que a humanização só pode ser pregada por quem realmente tem a humanização plantada no fundo do coração.
          A sociedade contemporânea está doente e as maiores partes das pessoas também estão doentes e quando chega um educador para tentar ajudar, dando exemplos por vezes de ensinamentos de outras pessoas, mostrando o grito das vidas, os doentes falam: “- O mundo é assim mesmo, não tem jeito!”, “- Estes pensadores são todos drogados!”, “- Você escuta esta música, isso era do meu tempo, este bando de hyppie!”, “- Este cantor não tem fundamento é um vagal”, “- São satanistas!”, “- Só fazem barraco!”. Como querer mudar a educação se muitas pessoas que se encontram nela ou pelo menos acham que se encontram, nem sempre escutam o grito das vidas, o grito por mudanças. A mudança deve partir de dentro e não de fora.
          É certo que ninguém nasce ladrão, ninguém nasce corrupto, ninguém nasce se prostituindo, ninguém nasce se drogando, ninguém nasce etilista, algo faz com que se tornem isso, como também ninguém nasce um educador, mas se torna um ou não com o decorrer da vida, as pessoas podem ser ou não. Porém uma coisa é certa “se não reconstruirmos a educação, as sociedades modernas se tornarão um grande hospital psiquiátrico. As estatísticas estão demonstrando que o normal é ser estressado, e o anormal é ser saudável” (CURY, 2003, p. 81). Que educação formal, informal e não formal a sociedade precisa cultivar? Como está já se viu que é desumanizadora.
          Com certeza caso as pessoas refletissem e se espelhassem na pessoa de Jesus Cristo o mundo seria muito melhor, porém nem todos o seguem então nestes casos pelo menos poderiam aproveitar ensinamentos de outras pessoas. Como seria bom se a sociedade tivesse a amorosidade e a esperança de Paulo Freire, o caráter democrático e social de Célestin Freinet, a força e a autoridade carismática de Antón Semiónovich Makarenko, a sutileza de Rubem Alves, o cuidado pela Terra de Leonardo Boff, fossem críticos e ousados como Milton Santos, que compreendessem a microfísica do poder e a domesticação dos corpos de Michel Foucault, ou ainda refletissem sobre a questão da educação como reprodução como Pierre Bourdieu, desenvolvessem novas formas de ensinar como Maria Montessori, tivessem empatia e fossem centrados na individualidade das pessoas como Carl Rogers. Como o mundo seria mais habitável.
          Personalidades citadas marcaram a história e querendo ou não influenciam a sociedade, são apenas alguns exemplos, há inúmeros outros. As pessoas estão cegas na alma, viciadas pelo momentâneo, materialismo, vítimas do comércio desenfreado e destruidor do habitat terrestre. São pessoas consideradas controle remoto acelerado sendo o botão de stop congelado. Quem vê de fora esta cena se entristece, mas alguém ou alguns devem mostrar o quanto o homem está se autodestruindo, destruindo a própria vida, a vida que deveria aproveitar está sendo consumida pela cegueira. É chegada novamente a hora da mudança, virar a página mais uma vez, a dinamicidade de uma nova vanguarda para o século XXI é agora, que se comece pela educação. Já!

Imagem disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPVRAy7GR3WpeCR-MDKt78tum7SikoyEezaZCYfeoyeNlfFliFfSV461d03jZ_w7s2VWMkRyc_2ys_V6IYkakvz3lRMHbqzwOf40i7JBA2aZRNNh31XHEf2XJgPdj0lGpPx6cBX_Asfo8/s320/ampulheta.jpg>. Acesso em: 10/10/11.

REFERÊNCIAS

CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, Professores fascinantes: educação inteligente formando jovens pensadores e felizes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 171 p.

SARAMAGO, José. O ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 310 p.

domingo, 9 de outubro de 2011

A PEDAGOGIA DOS CARACÓIS

Rubem Alves

Disponível em: <http://patriciafabiano.blogspot.com/>. Acesso em: 09/10/11.


Por Giselle Lima

Uma inspiração de Rubem Alves acerca dos caracóis.
Sejamos educadores com as qualidades destes pequenos moluscos!

 Redijo aqui uma parte do livro das páginas 78 a 80 para uma reflexão.


Os caracóis são moluscos lerdos. Andam muito, muito devagar. Ninguém tomaria os caracóis como exemplo. Embora suas conchas sejam belas e construídas com precisão matemática, o que chama a atenção de quem os observa é sua pachorra. Caracóis não têm pressa. Falta-lhes dinamismo, virtude essencial àqueles que vivem no mundo moderno. Quem anda devagar fica para trás.

Quem imaginaria que um educador, ao observar um caracol, tivesse uma inspiração pedagógica? Pois foi o que encontrei numa revista italiana que se dedica a pensar os rumos da escola, CEM Mondialità. A fotografia que ilustra o referido artigo é ade um menino, rosto apoiado na carteira, a observar tranquilamente um caracol que se arrasta sobre a tampa da mesa. E o título do artigo é "A pedagogia do caracol". Caracol tem édagogia a ensinar? O autor conta o sucedido com uma menininha que, ao voltar para casa, se queixou à mãe: "Mamãe, os professores dizem: 'É preciso andar rápido, nada de vagareza, para frente, para frente!' Mamãe, onde é a frente?" E aí ele passa a falar sobre a virtude pedagógica da vagareza. Pode ser que "chegar na frente" não seja tão importante assim! Quem sabe o "estar indo" é mais educativo que o chegar? No "estar indo" aprende-se um jeito de ser.

Nietzsche se ria dos turistas que subiam as montanhas como animais, estúpidos e suados. Não haviam aprendido que há vistas maravilhosas no caminho que sobe. Riobaldo, do Grande sertão: veredas, concordaria e acrescentaria: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". O adágio da Sonata ao luar, de Beethoven, tocado em presto seria um horror. As notas seriam as mesmas. Mas a beleza não se encontra no presto - ela está é na vagareza do adágio.

O autor do artigo aconselha os professores a estar com seus alunos no ritmo do adágio. Sem pressa. A lentidão é uma virtude a ser aprendida num mundo em que a vida é obrigada a correr ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos. Saber sobre sua vida, seus sonhos. Que importa que o programa fique atrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa, é porque algo não vai bem. Adrenalina no sangue, o coração disparado em fibrilação, diarreia.

Observar as nuvens. Conversar sobre suas formas. A observação das nuvens faz os pensamentos ficarem tranquilos. As notícias dos jornais são escritas depressa. Por isso têm curta duração. Mas a poesia se escreve devagar. Por isso ela não envelhece. É sempre nova. Inventaram esse monstruosidade chamada leitura dinâmica. O que a leitura dinâmica pressipõe é que um texto é feito com poucas ideias centrais, tudo o mais sendo encheção de linguiça. A técnica da leitura dinâmica é ir direto à ideias centrais, desprezando o resto como lixo.

Já imaginaram sexo dinâmico, sexo que dispensa os "entretantos" e vai direto ao "finalmente"? Essa é uma maneira canina de fazer amor. Mas não é a isso que os jovens são obrigados quando, ao se preparar para o vestibular, se põem a ler "resumos" de obras literárias? O resumo de uma obra literária é o resultado escrito da leitura dinâmica. É preciso ler tendo a lesma como modelo. Devagar. Por causa do prazer. O prazer anda devagar. Você leu este texto dinamicamente ou lesmicamente?

             Como seria bom se a sociedade fosse mais devagar, mais mansa, mais humana, mais inclusiva, mais solidária, mais respeitosa, mais acolhedora, mais amiga, mais justa, mais educativa, afinal, assim, viver seria muito mais vida do que morte a cada dia. Ahh...como é bom curtir a vida ao som de uma bela música clássica!

REFERÊNCIA


ALVES, Rubem. A Pedagogia dos Caracóis. Campinas: Verus, 2010. 95 p.